17.10.09

MEMÓRIAS PAROQUIAIS

E 1758 D. José I ordenou que em
todas as paróquias os respectivos padres
elaborassem um relatório descritivo
da sua freguesia a fim de se verificar a extensão dos
estragos causados pelo terramoto de 1755.

Os originais encontram-se arquivados
na Torre do Tombo, em vários volumes.

Francisco Coelho era á data o pároco de Alcaria.




"Este lugar de Alcaria é termo da vila de Porto de Mós, bispado de Leiria, comarca de Ourém, da sereníssima Casa de Bragança, Província da Estremadura: tem sua igreja paroquial erecta no ano de mil, setecentos e quatorze, foi desanexada da Colegiada de São João Baptista da vila de Porto de Mós por beneplácito do Rev. Prior, que então era António Correia: tem três lugares, que são Azambujal, Castanhal, e este de Alcaria todos mui próximo dela, de sorte que em circuito deles poderá haver meia légua: e está fundada no princípio do mesmo lugar de Alcaria, seu orago é a Senhora dos Prazeres: tem três altares, um da Senhora dos Prazeres, outro do Santíssimo, e o altar mor: tem quatro confrarias, que são do divino Espírito Santo, da Senhora dos Prazeres, do Santíssimo Sacramento e das Benditas Almas, e cada uma consta de um juiz, e dois mordomos que servem de lhes administrarem seus bens: tem cura anual apresentado in solidum pelo Rev. Prior da Colegiada de São João da vila de Porto de Mós: tem de renda cada um ano, cento e dez alqueiros de trigo; os quais pagam todos os fregueses e as ofertas de noivos, baptizados e defuntos que tudo poderá chegar à quantia de sessenta mil reis com pouca diferença uns anos pelos outros: tem uma ermida de Santo António sita no lugar do Azambujal e pertence à mesma igreja, não tem renda alguma: tem cento e quinze vizinhos e pessoas quatrocentas e dazasseis com todos.
Os frutos de que mais é abundante são azeite, trigo e cevada; tem pouco milho e dá todos os mais frutos muito, produz muitos carvalhos que caem de velhos( sito experiência que vejo) nos meses de Agosto e Setembro quando faz muito sol e tempo severo; dista da Cidade Capital do Bispado de Leiria três léguas e meia e da de Lisboa vinte e uma; tem bastantes criações de gado miúdo; tem dois lagares de azeite; tem um regato que só corre em tempo de muita chuva, este nasce à parte do poente a onde chamam a Fôrnea, e se vai ajuntar com o rio Alcaide e junto com este vai fenecer no rio chamado Lena, perto de Porto de Mós; tem uma fonte de boa água à parte do poente, junto do lugar do Azambujal e lhe costuma faltar a água em dois ou três meses no ano: é cercada de muitas serras, as quais só criam alecrim e carrasco não muito pela muita abundância de pedras; que é o mais de que constam e têm estas alguma caça de perdizes; e finalmente não consta assento algum haver serra ou lugar de mais pedras, do que este de Alcaria e seus arredores e não tendo que referir mais coisa alguma digna de memória, nem que dizer aos mais interrogatórios que faltam. Alcaria,11 de Março de 1758."

O Cura

Francisco Coelho

3 comentários:

isabel tiago disse...

Boa noite Mara


Com que então um novo espaço!!! Penso e tenho a certeza de que este irá ter o mesmo sucesso de outros da sua autoria, pelo menos para mim!!!
Este, pelo que me parece, tem a ver com as origens da Mara e eu gostaria de fezer uma abordagem idêntica aos meus antepassados. Eles mereciam que eu o fizessemas ainda não foi possível até ao momento a tal disponibilidade.
Gosto bastante do que expõe aqui neste cantinho, adorei o post da espécie protegida e estou a imaginar como nós, os lisboetas já não temos estas ligações!!! Noto muita falta de apego a tudo começando dentro da nossa própria família que não liga a nada de nada. Espero, com muito entusiasmo que os meus netos, nascidos há pouco, venham a herdar um pouco do meu gosto pelo passado.
Vou adicionar este novo blog e divulgá-lo.
Obrigada pela dica.
Até amanhã.
Boa semana.

Isabel Tiago

isabel tiago disse...

Excelente este relatório. Isto sim, era conhecer bem os locais.

Isabel Tiago

Américo C. Varatojo disse...

Brilhante, no fim de tanta lenga leiga, lá diz que não aconteceu nada, mas se não fosse assim e não tinha-mos esta descrição preciosa de Alcaria. fiquei a saber que a capela de são silvestre nem sempre teve esse santo como padroeiro, e ao contrario do que alguem me dizia há bem pouco tempo, que Alcaria há menos de 100 anos tinha um regato com curso de agua permanente, ora parece que já em 1758 só corria quando chovia muito tal e qual como hoje, fica meio desfeita a teoria daqueles que dizem que há menos agua na fornea quando se queixam de falta de agua nos fontanários. eu acho que a canalização já não deve estar nas melhores condições de conservação, e é uma pena. também tinha uma fonte de agua boa a poente junto ao ''Azambujal'' que suspeito ser o poço novo do qual ainda me lembro e que ainda há bem pouco tempo alguém acabou com ele para resolver um problema da forma mais simples e rápida possível, não gostei, e agora que penso que uma fonte de agua boa pode estar na origem da fixação de gente num determinado local dando origem a um local povoado, fico ainda mais triste com a forma como vejo resolver certos problemas